quinta-feira, 18 de julho de 2013

Um Filme... uma Banda Sonora

    For Lovers Only: para mim, um dos melhores filmes de sempre. Mas, gostos à parte, tenho de salientar a banda sonora deste filme que tem como princípio o elogio à French New Wave. Do filme falarei mais tarde, quando tiver mais algum tempo, pois merece algo melhor que umas simples palavras que digam o que qualquer um consegue ver.
    Voltando então à música que tanto me acompanha e é a banda sonora da minha vida, começo por A Girl Called Eddy, com a música 'Heartache'.


'No Cars Go' é a música que se segue e é da autoria dos Arcade Fire.


Confesso que nunca fui grande fã de música francesa, mas Serge Gaunsbourg surpreendeu-me pela positiva com 'La Noyée'.


A próxima pertence a French Kicks e é a verdadeira música para um making out. Chama-se 'Sex Tourists' (o nome diz tudo) e é impossível ficar indiferente a esta obra de arte.


'Everybody Here Wants You' é uma frase utilizada por Mark Polish no seu Twitter para se referir à atriz Stana Katic que contracenou com o ator, protagonizando uma verdadeira ode ao amor. E é também o nome escolhido por Jeff Buckley para a sua belíssima música.


John Lennon é um ícone da música mundial com diversas canções famosas, mas 'Love' é talvez uma das menos conhecidas. Pessoalmente desconhecia a existência desta música até a ouvir durante o filme. Numa palavra: sublime!




 Voltando à música francesa, encontramos Pascal Colomb com 'Toute Ressemblance'.



 Para terminar, temos uma bela melodia de Mathieu Boogaerts com 'Les Tchéques', mas que não se encontra disponível para visualização no youtube. Ainda assim, fica aqui a referência.


Seja qual for a música que nos acompanhe, o importante é ter com quem a partilhar quando assim desejamos ou guardá-la só para nós quando não queremos que ninguém entre no nosso mundo. A música que ouvimos diz muito daquilo que somos e ajuda a 'compor' o nosso estado de espírito. Mas acima de tudo, a música é «Só para amantes.» 

terça-feira, 16 de julho de 2013

FanFiction Castle - 1º Capítulo

CAPÍTULO 1 - Kate em D.C.

      Kate tinha terminado um grande caso na força especial de segurança do governo. Estava exausta. As ameaças terroristas são cada vez mais frequentes desde o onze de setembro. Todos os dias homens que seguem uma versão distorcida do Alcorão, tentam chegar aos Estados Unidos com passaportes falsos. Mas os mais difíceis de encontrar são os terroristas domésticos. Este foi um dos casos. Kate teve de chefiar uma equipa que procurava um americano suspeito de ter comprado a um laboratório alemão 10mg de Antrax e planeava libertar este produto letal através da ventilação de um centro de conferências em D.C. onde se reuniam vários representantes políticos aliados dos Estados Unidos. Felizmente, este homem que tinha criado um ódio cego ao seu próprio país por ter sido dispensado sem honras do exército devido a má conduta, foi capturado minutos antes de introduzir o Antrax no sistema de ventilação. Mais um caso resolvido para a nossa ex-detetive de Nova York.
      Kate voltou para o seu novo apartamento na capital. Silêncio era o que emanava do interior do seu apartamento e era tudo o que ela mais queria naquele momento. Deixou a sua mala no sofá da sala, a arma e as suas credenciais numa gaveta de um armário no corredor de entrada e dirigiu-se à cozinha. Do armário retirou um copo de vidro. Abriu uma garrafa de vinho tinto que havia comprado na semana anterior numa loja de conveniência e verteu o líquido para o interior do copo. Deu um pequeno gole para saborear o aroma frutado deste néctar. Com este pequeno ritual, Kate lembrava-se sempre da taça de vinho que desfrutava com Castle no seu apartamento enquanto falavam do último caso que tinham resolvido. Foi nesse momento que ouviu o som de água a correr. O som parecia vir da sua casa de banho. Pousou cuidadosamente o copo ainda com vinho no balcão de mármore da cozinha. Foi até ao corredor e abriu devagar a gaveta para retirar a sua Glook. De arma em punho começou a caminhar lentamente até à porta da casa de banho que, agora reparava, tinha a porta entreaberta e era possível ver uma espécie de luz muito ténue e irregular. Era como se essa luz dançasse com as sombras. Aquele senário parecia-lhe tudo menos normal. Sempre teve extremo cuidado com a localização do seu apartamento. Era o seu refúgio do trabalho e não queria que ninguém a incomodasse ali. Encostou-se à parede mesmo ao lado da porta, sempre com a sua arma em riste apontando para a pequena abertura da porta. Foi aí que sentiu um cheiro extremamente suave e agradável. Parecia que cheirava a cerejas.Decidiu entrar.

terça-feira, 30 de abril de 2013

«Tão cheia de pudor que vive nua»

Terá mais pudor quem na sombra vive
Desta árvore da vida entristecida,
Pelos homens e mulheres esquecida,
Do que quem neste palco sobrevive?

Esconde uma nudez perfeita
Aos olhos daqueles mais curiosos
Que desconhecem o quão perigosos
São os artifícios que em si deleita.

Cheia de pudor ela vive nua
Para quem só vê sua virgindade
Ao contemplar a bela luz da Lua

Que enfeitiça os que são mais desvairados
E esconde na pele que é só sua
Os que se protegem em mais cuidados.

Poética: Arte ou Ciência? IV



A Ciência com Arte



          A poética é uma ciência, ainda que num exercício de racionalização do artístico. Como é o fundamento basilar da construção da ciência ou da teoria literária, está revestida de um caráter dominantemente científico. A epistemologia é uma contribuição filosófica para a questionação e para a problematização científica e é nela própria que é sustentado o exercício de reflexão e de racionalização que admite um caminho no sentido de tornar científico o objeto, neste caso, o estatuto literário dos textos.
          Em suma, a poética é uma ciência com arte, pois para que exista a poética tem, necessariamente, de existir a poesia. Para que se universalize um conceito que está presente na poesia é preciso, primeiro, ter arte para compreender a obra artística e, depois, ter a capacidade de abstração para que se possa concretizar a generalização de um conceito.

  

Bibliografia



DOLEZEL, Lubomír, A Poética Ocidental – Tradição e Inovação, Fundação Calouste Gulbenkian, 1990


TODOROV, Tzvetan, Poética, Teorema


ARISTÓTELES, Poética, Fundação Calouste Gulbenkian, 4ª Edição (2011)


ARISTÓTELES, Ethica a Nicómachea, Bekker Greek, Livro VI


PINHÃO, Maria da Graça, Aristóteles – Vida, Obra e Pensamento, Editora Planeta De Agostini, S.A. (Coleção Jornal Público)

Poética: Arte ou Ciência? III



A Epistemologia da Poética

           
            A poética aristotélica tem como tarefa descobrir os atributos essenciais da poesia e ignorar as propriedades possíveis mas incertas e inconstantes das obras poéticas individuais. A poética é universalista, pois não se preocupa com a análise ou a interpretação das obras poéticas concretas. «O cerne da poética aristotélica é construído por definições ou afirmações sobre universais genéricos»[1]. Segundo Todorov, “cada texto particular é apreciado como a manifestação de uma estrutura abstrata. Desta forma, inscreve-se no âmbito geral da ciência e o seu objectivo já não é a descrição da obra singular, a designação do seu sentido, mas sim o estabelecimento de leis gerais de que o texto particular é produto.”[2]
            Quando a demonstração de Aristóteles deu lugar à mereologia – estudo lógico de relações entre as partes e o todo e das relações entre as partes e o interior de um todo – foi dado um grande passo para que a poética fosse aceite como uma disciplina científica. A mereologia é extremamente importante para a poética, uma vez que afirma que qualquer ciência que estude apenas as “partes” sem atender ao “todo” está a dar uma informação insatisfatória e incompleta.
            Assim, a epistemologia da poética está caracterizada como sendo uma ciência universalista devido à mereologia. A epistemologia da poética é, assim, válida e aceite como tal.
           
           


[1] DOLEZEL, Lubomír, A Poética Ocidental – Tradição e Inovação, Fundação Calouste Gulbenkian, 1990, Cap. I, p. 37
[2] TODOROV, Tzvetan, Poética, Teorema, Cap. I, p. 8 (adaptado)

Poética: Arte ou Ciência? II



A Filosofia Aristotélica da Ciência


            Ao aceitar-se que a poética pode ser uma ciência produtiva é necessário verificar se ela se encaixa na definição aristotélica de ciência. São três as teses necessárias para um melhor entendimento da epistemologia da poética:

a)      A ciência foca-se apenas nos atributos que são essências para o reconhecimento do universal, uma vez que o particular não lhe interessa para a formulação de leis gerais que se possam aplicar a toda a poesia.
b)      Para se sair do particular e ver o universal é inevitável o uso da indução e do silogismo. O primeiro método faz uma análise sistemática e excessiva a grupos particulares de uma forma contínua e expansiva. O segundo método parte de dois pressupostos que se encontram interligados e faz uma generalização.
c)      A ciência tenta elaborar o seu conhecimento fazendo demonstrações, mas a demonstração é feita com base em axiomas que não são demonstráveis. Por isso, Aristóteles diz que é a intuição que apreende as premissas primeiras. Esta intuição é racional e empírica e tem como base a experiência reunida pela perceção sensorial e pela memória.

É, de facto, verdade que Aristóteles, na sua obra intitulada Poética, faz uma descrição o mais universal possível dando apenas uso a determinadas obras específicas só para demonstrar que a sua definição está empregue. Atentemos no seguinte exemplo:
«Se houver uma só personagem, isso não implica, como pensam alguns, unidade de enredo. Com efeito, numa só pessoa concentra-se uma infinidade de acontecimentos, alguns dos quais não se podem reduzir a uma unidade; e também há muitas acções de uma só pessoa com as quais não se forma uma acção única. […] sendo Héracles um só homem, a sua história deveria ser também uma. Mas Homero, assim como se distingue no mais, também parece que compreendeu isto bem, devido ou ao seu talento: ao compor a Odisseia, não narrou tudo o que aconteceu a Ulisses como, por exemplo, que ele foi ferido no Parnaso e que fingiu estar louco na assembleia, acontecimentos entre os quais não existia qualquer ligação necessária ou aparente. Pelo contrário, compôs a Odisseia e igualmente a Ilíada centradas numa acção una, como nós o entendemos.» [1]
Com este excerto da Poética verificamos que Aristóteles formula a definição da “unidade da ação”, baseando-se no pressuposto da existência de uma só personagem, dando-lhe um caráter universal e fazendo, depois, a demonstração com base na Odisseia, de Homero.








[1] ARISTÓTELES, Poética, Fundação Calouste Gulbenkian, 4ª Edição (2011), Cap. 8; pp. 52-53