A Filosofia Aristotélica da Ciência
Ao aceitar-se que a poética pode ser
uma ciência produtiva é necessário verificar se ela se encaixa na definição
aristotélica de ciência. São três as teses necessárias para um melhor
entendimento da epistemologia da poética:
a) A ciência foca-se apenas nos atributos que são
essências para o reconhecimento do universal, uma vez que o particular não lhe
interessa para a formulação de leis gerais que se possam aplicar a toda a
poesia.
b) Para se sair do particular e ver o universal é
inevitável o uso da indução e do silogismo. O primeiro método faz uma análise
sistemática e excessiva a grupos particulares de uma forma contínua e
expansiva. O segundo método parte de dois pressupostos que se encontram
interligados e faz uma generalização.
c) A ciência tenta elaborar o seu conhecimento
fazendo demonstrações, mas a demonstração é feita com base em axiomas que não
são demonstráveis. Por isso, Aristóteles diz que é a intuição que apreende as
premissas primeiras. Esta intuição é racional e empírica e tem como base a
experiência reunida pela perceção sensorial e pela memória.
É, de facto, verdade que Aristóteles, na sua
obra intitulada Poética, faz uma
descrição o mais universal possível dando apenas uso a determinadas obras
específicas só para demonstrar que a sua definição está empregue. Atentemos no
seguinte exemplo:
«Se houver uma só
personagem, isso não implica, como pensam alguns, unidade de enredo. Com
efeito, numa só pessoa concentra-se uma infinidade de acontecimentos, alguns
dos quais não se podem reduzir a uma unidade; e também há muitas acções de uma
só pessoa com as quais não se forma uma acção única. […] sendo Héracles um só
homem, a sua história deveria ser também uma. Mas Homero, assim como se
distingue no mais, também parece que compreendeu isto bem, devido ou ao seu
talento: ao compor a Odisseia, não
narrou tudo o que aconteceu a Ulisses como, por exemplo, que ele foi ferido no
Parnaso e que fingiu estar louco na assembleia, acontecimentos entre os quais
não existia qualquer ligação necessária ou aparente. Pelo contrário, compôs a Odisseia e igualmente a Ilíada centradas numa acção una, como
nós o entendemos.» [1]
Com este excerto
da Poética verificamos que
Aristóteles formula a definição da “unidade da ação”, baseando-se no
pressuposto da existência de uma só personagem, dando-lhe um caráter universal
e fazendo, depois, a demonstração com base na Odisseia, de Homero.
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