A Filosofia Aristotélica do Conhecimento

É descrito na obra Ética a Nicómaco (Livro VI) que “o saber
prático (…) deve traduzir um estado racional e verdadeiro da capacidade para
agir relativamente aos bens humanos.” Com esta definição depreende-se que a
poesia não é um saber prático, uma vez que esta pertence ao modo do “fazer”
(produção) e não do “agir” (comportamento). Restam, agora, a arte e a ciência.
“A arte identifica-se com a capacidade de fazer e envolve um raciocínio
verdadeiro. Toda a arte tem por objecto dar existência a algo, o objecto último
da arte consiste em descobrir os meios de dar existência a alguma coisa que
pode ser ou não ser e cujo princípio reside no produtor e não na coisa
produzida.”[1]
Neste pensamento, Aristóteles conclui que a poesia é uma arte que produz obras
poéticas e os poetas são exímios nessa arte. Então, se a poesia é uma arte e os
poetas são os mestres dessa arte, significa que os poeticistas, que descrevem a
arte dos poetas, têm uma atividade do domínio da investigação científica. Isto
leva-nos, assim, a acreditar que a Poética,
de Aristóteles é uma ciência. Para o confirmar devemos observar a conceção e a
classificação aristotélica das ciências que se encontra numa visão tripartida:
as ciências teóricas, práticas e produtivas. Esta tripartição é simplificada
porque tem um princípio claro em que as ciências produtivas dizem respeito ao
“fazer”, as práticas ao “agir” e as ciências teóricas à “natureza”. Como a
poética diz respeito ao “fazer”, estamos perante uma ciência produtiva.
A
ciência produtiva e a ciência prática estão intimamente relacionadas com o seu
domínio. O conhecimento que se pode adquirir destas duas ciências pode ser
usado para “agir”, através do saber da ciência produtiva, e para “fazer”,
através da experiência da ciência prática. Isto significa que a diferenciação
entre a ciência produtiva (que diz respeito à poética) e a ciência prática (que
está de mão dada com a arte da poesia) não deve implicar a separação destas
duas atividades, bem pelo contrário.
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