terça-feira, 30 de abril de 2013

Poética: Arte ou Ciência? I



A Filosofia Aristotélica do Conhecimento



            Do ponto de vista de Aristóteles, o Homem tem a capacidade de obter conhecimento de cinco formas diferentes: a arte, o conhecimento científico, o saber prático, o saber filosófico e a razão intuitiva. Desta forma, pode-se inferir que a poética é classificada como uma arte, uma ciência ou um saber prático. Para compreender os princípios epistemológicos da poética é necessário ter conhecimento das definições de “arte”, “ciência” e “saber prático”, segundo Aristóteles.
            É descrito na obra Ética a Nicómaco (Livro VI) que “o saber prático (…) deve traduzir um estado racional e verdadeiro da capacidade para agir relativamente aos bens humanos.” Com esta definição depreende-se que a poesia não é um saber prático, uma vez que esta pertence ao modo do “fazer” (produção) e não do “agir” (comportamento). Restam, agora, a arte e a ciência. “A arte identifica-se com a capacidade de fazer e envolve um raciocínio verdadeiro. Toda a arte tem por objecto dar existência a algo, o objecto último da arte consiste em descobrir os meios de dar existência a alguma coisa que pode ser ou não ser e cujo princípio reside no produtor e não na coisa produzida.”[1] Neste pensamento, Aristóteles conclui que a poesia é uma arte que produz obras poéticas e os poetas são exímios nessa arte. Então, se a poesia é uma arte e os poetas são os mestres dessa arte, significa que os poeticistas, que descrevem a arte dos poetas, têm uma atividade do domínio da investigação científica. Isto leva-nos, assim, a acreditar que a Poética, de Aristóteles é uma ciência. Para o confirmar devemos observar a conceção e a classificação aristotélica das ciências que se encontra numa visão tripartida: as ciências teóricas, práticas e produtivas. Esta tripartição é simplificada porque tem um princípio claro em que as ciências produtivas dizem respeito ao “fazer”, as práticas ao “agir” e as ciências teóricas à “natureza”. Como a poética diz respeito ao “fazer”, estamos perante uma ciência produtiva.
A ciência produtiva e a ciência prática estão intimamente relacionadas com o seu domínio. O conhecimento que se pode adquirir destas duas ciências pode ser usado para “agir”, através do saber da ciência produtiva, e para “fazer”, através da experiência da ciência prática. Isto significa que a diferenciação entre a ciência produtiva (que diz respeito à poética) e a ciência prática (que está de mão dada com a arte da poesia) não deve implicar a separação destas duas atividades, bem pelo contrário.



[1] ARISTÓTELES, Ethica a Nicómachea, Bekker Greek, Livro VI, cap. 5, p. 1140, coluna b

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